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domingo, 6 de abril de 2008

nos tempos da fita cassete (ou: good times are back again!)

quando eu era adolescente/recém adulta, eu fazia algo que milhares de outras pessoas também faziam, na mesma época, muito embora, eu só tenha percebido depois que aquele era um traço de comportamento de todo um grupo (sim, eu ingenuamente achava que "eu era especial, eu era quase a única"): gravar fitas cassete. dependendo de qual é a sua idade, você pode não entender muito bem do que eu estou falando. vou tentar explicar.

eu adquiri os meus 2 primeiros cds na vida em 1992. antes disso, eu me virava com vinis (nos prímórdios) e fitas cassete (a partir de 1988, quando eu passei a ter um rádio toca-fitas no meu quarto). estamos falando de uma época em que não se podia baixar música da internet, pelo simples fato de que eu nunca tinha ouvido falar em internet (coisa que eu só fui ver lá por 1997), só pra começar, e gravador de cds era algo tão distante da realidade dos pobres mortais que nem se pensava nele.

(divagação: nesta época também existia o suposto "pai" do DVD, um troço chamado video laser, que era uma cruza de cd - o aspecto - com vinil - o tamanho -, não emplacou e foi um dos maiores micos tecnológicos da história, comercialmente falando. pior do que videogame odissey e videocassete betamax)

de forma que não tinha isso de pegar músicas soltas na internet, ouvir no seu computador ou mp3 player. e cds não eram baratos, e nem tudo saía em cd no brasil, por isso você ainda recorria aos amiguinhos para gravar em fita cassete aquele álbum especialíssimo importado que só ele tinha. eu gravava tudo em fita porque não daria para comprar, por exemplo, todos os cds dos beatles, e mais discos de música dos anos 60, e coisas do gênero, que existiam na coleção de meu avô. aliás, até porque entre 1989 (o ano em que eu soube da coleção de cds dele) e 1992 (quando eu comprei meu primeiro microsystem com cd player), era deste jeito ou nada.

outra prática comum era ficar com uma fita cassete esperando para quando tocasse aquele sucesso no rádio, e gravar, e no fim você tinha sua própria fita com os maiores sucessos - e um monte de cortes estranhos, e locutores falando em cima da música, e jingles de emissoras de rádio. tinha gente que chegava ao cúmulo de ficar ligando loucamente para a rádio para pedir a música. e eu vou parar por aqui antes que todo mundo comece a achar que eu vivi na era do rádio, em 1920/30/40/sei lá quando foi.

eu também fazia coletâneas em fitas cassete, principalmente para ouvir no carro. é gente, a vida era assim. e, para fins de flerte, e para presentear e impressionar coleguinhas, ou só mesmo para apresentar alguém a uma banda ou a algumas músicas, a gente também gravava fitas cassete para oa outros.

pausa: se você leu alta fidelidade, sabe do que eu estou falando. permita-me transcrever um trecho do livro:

"ela não quis dançar a música do jackson five e veio andando na minha direção, mas estava rindo e disse que não ia pedir mais nada. só queria saber onde poderia comprar o disco. eu disse que se ela voltasse na semana seguinte eu teria uma fita para ela, e ela pareceu realmente satisfeita.

passei horas montando aquele cassete. para mim, fazer uma fita é como escrever uma carta - eu apago e repenso e começo de novo, muitas vezes, e eu queria que ficasse uma fita boa porque... para ser franco, eu não havia conhecido ninguém tão promissor quanto laura desde que começara a trabalhar como dj, e conhecer mulheres interessantes era um dos objetivos de ser dj. é tão difícil montar uma fita boa quanto se separar de alguém. você tem que começar com um sucesso, para prender a atenção (eu comecei com 'got to get you off my mind', mas depois percebi que se eu entregasse o que ela queria logo de início, ela talvez não passasse da primeira faixa do lado um, de modo que enterrei-a no meio do lado dois), e depois você tem que incrementar um pouco, ou segurar um pouco, e você não pode ter música branca e música negra juntas, a não ser que a música branca soe como negra, e você não pode ter duas faixas do mesmo artista lado a lado, a não ser que você tenha feito a coisa toda em pares, e... ah, há milhões de regras."

cada um com suas regras. eu costumava fazer uma salada e geralmente colocava coisas que não necessariamente combinavam entre si e só mostravam como eu era uma garota de interesses variados e eclética. ridículo, eu sei, mas curiosamente eu ainda sigo este padrão quando gravos cds para mim, ou quando organizo playlists (ah, esse mundo muderno).

eis que sábado passado, estava eu lendo um blog que tinha achado na sexta, quando estava googleando atrás de alguma coisa e sei lá como fui parar lá. e então me deparei com esta pérola: http://www.mixwit.com/.

sim! é um site onde você pode "gravar" suas próprias "fitinhas"! é basicamente uma forma de ouvir música online, mas de uma forma muito mais fofa do que essas rádios. e, claro, você pode salvar a sua seleção, e escolher o layout da sua fita (isso é uma das partes mais legais, na minha opinião), e mandar o link para quem quiser (de novo, como eu falei acima, para fins de flerte, e para presentear e impressionar coleguinhas, ou só mesmo para apresentar alguém a uma banda ou a algumas músicas).

então, eu aproveitei, antes de aprender a upar música e botar um mini player aqui no blog (quem souber fazer isso, me ajude), para fazer uma fita com umas músicas de antony and the johnsons. editei o post e botei o link para a fitinha lá (clique aqui para ir direto para a fitinha). e pode parecer besteira, mas esses anacronismos revisitados pela recnologia me emocionam.

p.s. o blog onde eu descobri a existência do mixwit é o gravatai merengue, que deveras me divertiu nesse sábado.

7 comentários:

Moët disse...

Cara, simplesmente chorei!!

Eu AMAVA fazer fitinhas temáticas para os amigos e FATO que já fiz essa de gravar a música tocando no rádio com a porra do locutor falando em cima...a Transamérica era a pior do mundo pra isso, eles só tocavam 20 segundos da música e o locutor já vinha falar uma merda qualquer. Ou então botava uma vinheta tosca tipo Trantrantrantransamérica...

Amei a dica do mixwit!!!

Jorge H Moraes disse...

menina,
eu gravava fitas prá ouvir no walkman. tinha centenas delas em algum lugar do meu ap antigo e se procurar encontro alguma por aqui. mas nunca usei prá flerte. sempre achei que se dando um toque, quem sabe a pessoa ia atrás. algumas foram, outras, nem pensar...e tinha aquelas que fingiam gostar...
em tempo, vc acha que antony and the johnsons funciona como arma de flerte?
beijo

fabiana disse...

Amei a dica do site de fitinhas! Eu também gravava loucamente músicas no rádio e coletâneas e tal...

Moët disse...

Jules, qual é a da porra da letrinha? Como se não bastasse a radiação do monitor pra me fuder a córnea... /suave

paula disse...

Considerações Cunhado,

Sim, também gravava fitinhas. Minhas seleções eram péssimas.

Também gravava direto do rádio, com direito a ódio mortal às vinhetas.

A internet só chegou oficialmente ao Brasil em 1995. Nas residências... digamos que sua casa foi uma das pioneiras em 1997, pelo menos na Bahia.

Com certeza vou conferir o site das fitinhas.

Agora, chamar o Odissey de mico tecnológico é uma injustiça. Na minha casa tinha e todo mundo amava. Meus primos também tinham. O meu funcionava até minha mãe resolver dar ele já pelos anos 2000.

très julie disse...

cunhado, eu amava dois jogos do odissey: snafu e um estilo space invaders. eu chamei de mico tecnológico no sentido de que não emplacou como o atari, assim como betamax sempre quis ser vhs. não tem nada a ver com a qualidade, e sim com a popularidade.
e eu esqueci de dizer que ainda tenho um monte de fitas lá em salvador. coisa fina, como o melhor do oscar volumes 2 e 3, várias trilhas de novelas, a-ha, nenhum de nós... aliás, eu pretendo divagar um pouco sobre a formação do meu gosto musical num post daqui a mais um tempo.
e uma fita que nunca foi nossa, com o título escrito a caneta (99 sal picado), onde tinham coisas gravadas do rádio, que eu tenho certeza que é de alguma amiga de irmã na época da 6ª série?

très julie disse...

e jorge, bem lembrado, o que eram aqueles walkmans que pesavam uma tonelada e consumiam as pilhas em 3 horas?

e como arma de flerte, qualquer coisa pode funcionar, vai depender de quem recebe. se alguém gravar "todo azul do mar" do 14 bis pra mim, eu vou querer me matar, mas essa deve ser a música tema de vários casais por aí (para o azar deles).