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quarta-feira, 28 de julho de 2010

pegar carona nessa cauda de cometa

eu fui uma criança que começou a ler muito cedo, e que lia muito. e que, por algum motivo, tinha ciências como a matéria favorita. meu pai, formado em engenharia, entendia alguma coisa de astronomia, e eu adorava ficar olhando o céu noturno, em arembepe (onde, como no interior, a gente consegue ver melhor o céu), com ele mostrando as constelações e dizendo os nomes de tudo.

achava engraçado que vênus fosse um planeta, porque tinha a maior cara de estrela (aquela primeira estrela que aparece, a mais brilhante e próxima, se você não sabe, é o planeta vênus). porque a gente-criança idealiza, então os planetas são redondos (e o mais legal é saturno com os aneis), e as estrelas são pentagonais e brancas (quando na verdade elas podem ser brancas, azuis, vermelhas e amarelas, bla bla bla), e o sol é o sol, mas a agente aprende na escola que ele é uma estrela e fica contando isso por aí como se fosse uma grande novidade (geralmente, só quem não sabe são os irmãos mais novos).

aí eu descobri que existiam os cometas. em 1986, o cometa halley ia passar perto da terra, e os cometas aparecem apenas de 76 em 76 anos, então ia ser *O* acontecimento. eu até achava que ia ser uma uma passagem estilo estrela cadente, do tipo "se piscar, perdeu", mas meu pai explicou que ele demorava algumas noites no céu, porque, embora estivesse rápido, era ENORME e estava bem longe. só sei que fiquei na imensa expectativa de acompanhar um fenômeno astronômico que eu não voltaria a ver a não ser quando fosse uma velhinha de 86 anos, se estivesse viva.

a passagem do cometa ia ser o happening do milênio - pelo menos assim pensaram os gênios do mal do marketing. sim, fomos bombardeados com o lançamento de milhares de produtos (cafonas e vagabundos, claro) com a marca do cometa - pense em qualquer bagulho do tipo boné, chaveiro, camiseta, iô-iô, brinquedos mil. lançaram uma família halley, todo mundo se chamava halleyalgumacoisa, e a mascote era o halleyfante, que, por alguma razão que eu honestamente desconheço, aparecia num programa de TV junto com simony (ainda de roupa) e fofão (aquele ser que tem uma cara de pica misturada com papeira e anos depois eu descobri que era o patropi da escolinha do professor raimundo). e esse nem é o pior legado: se você é da bahia e é da turma dos trinta anos, sabe que nessa época o ainda não prefeito fernando josé, que era apresentador de um programa de jornalismo de denúncias local, compôs a pérola "o halley quando passa lá no céu, treme tudo aqui na terra", cujo refrão é (corra para as montanhas): "halley ali, halley aqui, dançando deboche, depois ti ti ti" (deboche e ti ti ti eram as danças baianas populares da época, junto com o fricote - tudo culpa de luis caldas, digo logo, não sou baú).

entendida a magnitude do evento, imagine a ansiedade de uma criança nerd com a passagem do cometa. multiplique por 10, porque aqui em casa, havia uma relíquia da infância de meu pai, o poliopticon, que é um kit "monte sua luneta, telescópio, lupa, microscópio, binóculo ou monóculo de joalheiro" (foto dele aqui e aqui), que obviamente foi montado e regulado para que pudéssemos ver o cometa com riqueza de detalhes.

o detalhe é: não sei o que aconteceu, em que raio de órbita a porra do halley passou, só sei que ninguém viu. mentira, a real é que eu vi, via telescópio, uma coisa láááááááá longe que, segundo meu pai, era ele. basta dizer que a nebulosa saco de carvão era BEM mais vistosa. balde de água fria é pouco, hein?

2 comentários:

Caminhante disse...

Eu lembro do Halleyzinho e de comer iogurte decorado de cometa. Eu achei que não vi nada porque no céu de Curitiba nunca dá pra ver nada. Foi um consolo quando apareceu no jornal o não-aparecimento do cometa.

Quéroul disse...

eu lembro!
86 era época da Copa; 'não méxico brasil'.
eu tinha uma setter irlandesa ruiva escândalo, linda de viver.
era numa época que a Maggi (ou alguma outra marca, não lembro) lançou uma sopa com macarrão em forma de cometa, estrela e afins.

e eu não vi porra de cometa nenhum. raios que nos partam! :/


(hahaha, que demais. a palavra de confirmação aqui da sua caixinha é: somenine. HAHAH, eu ri alto. sô meninë, ok?)