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terça-feira, 26 de agosto de 2008

profissão: baiana

eu me dei conta de que voltar para salvador alterou uma parte significativa da minha identidade. morar em outro estado foi responsável por me tornar "baiana".

explico: sendo uma pessoa de nome comum, alguns amigos passaram a me chamar de "ju baiana" para me diferenciar de outras jus. eu era sempre a do sotaque diferente, e se ganhasse um real para cada vez que eu ouvi e respondi a pergunta "você é da bahia? mas o que você veio fazer aqui?", estaria com uma bela reserva monetária.

fui a almoços e festinhas que só tinham razão de ser por serem um encontro de baianos "desterrados". não sei quantas vezes participei de conversas tentando explicar o significado que alguns termos teriam em "paulistês" (nem todos, por sinal, eram tipicamente baianos; alguns fazem parte da forma de falar da minha turma).

servi de paradigma para mostrar que baianos não são lentos e não falam necessariamente arrastado. já outros me identificaram como o protótipo da "baiana arretada" (diga-se de passagem, eu discordo).

se eu gosto de pimenta, isso é explicado por eu ser baiana. já o fato de eu não ligar muito para cocada é encarado com estranheza, porque "onde já se viu uma baiana não gostar de cocada?".

no campo musical, dá e deu trabalho explicar que eu não gosto de axé, que eu não vou pra salvador no carnaval (muito caro, não tenho mais saco pra pular e todos os meus amigos acabam viajando). se eu digo que gosto de rock, tenho que ouvir que sou parecida com pitty (também discordo).

as pessoas também não entendem que cidades que são ótimas para se passear podem não ser sensacionais para se morar (como qualquer cidade, aliás, já que todas têm problemas), que em salvador o trânsito está ficando mais caótico a cada dia que passa, e que um monte de coisas que fazem sucesso em salvador (basicamente, todas ligadas a carnaval, micareta e axé) não me agradam.

tive que aprender a "neutralizar" o sotaque ao telefone, falando com desconhecidos, porque as pessoas simplesmente não entendem o que você fala (ou não querem entender) se suas vogais são mais abertas. pior: falam letra Ê e se você fala letra É, não apenas não entendem como dizem que "só na bahia" (mentira, no rio de janeiro também se fala letra É).

apesar de não ser nem um pouco fã do estilo, fiz coisas como ir a um show do chiclete com banana no festival de verão do guarujá só para matar um pouco as saudades da terra.

blefei inventando coreografias, porque invariavelmente queriam que eu dançasse os últimos sucessos da bahia nas festas, e dava muito trabalho dizer que eu não tinha idéia de como era a coreografia oficial (pior ainda quando eu nunca tinha ouvido a música).

fiquei amiga de pessoas de quem não teria sido mais do que conhecida porque eu e elas fomos morar em são paulo. chefiei a "embaixada baiana em são paulo", a.k.a. meu apartamento, assim apelidado por minha mãe. embaixada essa, aliás, que acabou virando meio que uma assembléia geral da ONU com as eventuais idas de paranaenses, sergipanos e fluminenses para lá.

enfim: só não usei torço, mas até moqueca aprendi a fazer, contrabandeei fitinhas do bonfim (mensuráveis a metro, em rolos) e abarás congelados, fui consultada como se fosse uma autoridade sobre o candomblé, ouvi zil pessoas perguntando se ACM é (era) amigo de minha família e estranhando o fato de eu nunca ter ido a porto seguro.

descobri que ir à praia é uma questão cultural, e que eu prefiro mesmo a forma soteropolitana: ficar numa barraca, comer acarajé, abará e queijo coalho, tomar cerveja. essa coisa de ir à praia de forma saudável, praticar esportes ou comer barrinha de cereal? se liga, meu povo!

baixei da internet músicas de dodô & osmar (e comecei a surtar, querendo pular carnaval na praça castro alves até me dar conta de que o que eu queria era o carnaval de 25 anos atrás, e nem fudendo dá pra encarar aquela muvuca), da timbalada e de edson gomes. e provavelmente só fiz isso porque estava morando fora.

estranhei um são joão cuja festa acontece em quermesse, com gente comendo cachorro quente, churrasquinho, bolinho caipira e bebendo vinho quente (ODEIO!!!) e quentão (adoro!), sem amendoim cozido, sem licor, sem bolo de tapioca, de aipim, de puba, sem bolinha de jenipapo, sem munguzá. aliás, tive que chamar munguzá de canjica e canjica de curau!

me irritei muito quando ouvi - inúmeras vezes - o termo "baiano" ser usado como sinônimo de brega, pobre, bizarro, feio e coisas do gênero. e não, eu não entendo que é uma forma de se expressar que não tem a ver com a bahia, e essa é uma desculpa esfarrapadíssima que eu tive que ouvir de algumas pessoas.

enfim, o fato é que, de repente, caiu a ficha de que eu não moro mais em um lugar que não é minha origem, e onde eu sou identificada como diferente. deixei de ter sotaque (não deixei, claro, mas é que, como eu passei muito tempo dizendo, a gente não tem sotaque na terra da gente porque lá todos falam parecido) e perdi esta identidade de estrangeira.

p.s. dedico este texto a todos os que andam por aqui e que são ou foram estrangeiros em terra alheia. acho que hoje em dia isso tem sido cada vez mais freqüente.

luz na passarela que lá vem ela, a freira

gente, eu adoro quando o mundo volta a nos brindar com notícias deliciosamente tabloideanas... viram essa (no original, clique aqui)?

Padre italiano cancela concurso de "Miss Freira" por críticas

O sacerdote italiano Antonio Rungi, que tinha lançado um concurso na Internet para escolher a freira mais bonita do país, suspendeu momentaneamente a iniciativa ao considerar que havia gerado muita "confusão" e após ter recebido algumas críticas, informa a agência EFE.

Com um comunicado, Rungi tinha pedido às religiosas e noviças entre 18 e 40 anos que mandassem fotos para participar de um concurso de beleza, que acabaria "com alguns preconceitos sobre que as meninas menos bonitas se tornam freiras".

(O UOL Tablóide, que revelou ao país Votuporanga como uma potência do mundo das misses, graças ao trabalho do Padre Sílvio, lamenta que a Igreja Católica italiana não tenha dado o devido valor à iniciativa).

O sacerdote explicou hoje que decidiu cancelar a iniciativa ao considerar que foi "mal interpretada", pois seu objetivo era só "contar, através da internet, a vida nos conventos e os relatos mais belos da vida das religiosas".

"É uma iniciativa que diminui o papel das freiras consagradas a Deus, às missões, às obras de caridade, e aos mais indefesos", rezava um comunicado emitido hoje pelo presidente da Associação Cultural de Docentes Católicos, Alberto Giannino.

O padre afirmou que, após ser divulgada a notícia do concurso, recebeu, através de seu blog, "duras injúrias" e ameaças de "ir ao inferno".

(O UOL Tablóide lamenta mais uma vez que o padre não esteja sendo bem compreendido em sua missão).

O religioso esclareceu que o concurso queria ser uma "provocação" para "chamar a atenção para o mundo das freiras, freqüentemente pouco valorizado", e sobre "a falta de vocações entre as mulheres italianas".

Rungi assegurou que o "concurso" será retomado somente quando as pessoas entenderem "a bondade da iniciativa" e essa não for mal interpretada.

(O UOL Tablóide, que é sempre favorável à criação de mais um concurso de miss, onde quer que seja, espera que a decisão seja revertida).

olimpiÁdas

o que eu assisti dessas olimpíadas de pequim foi basicamente o que alguém estava assistindo quando eu, sem nenhuma intenção, passei por algum lugar onde tinha uma TV ligada. isso explica porque, vira e mexe, eu pegava carona no que meu pai estivesse vendo (geralmente, todos os 4 canais do sportv ao mesmo tempo, zapeando loucamente).

aí que este cidadão paterno, vendo um jogo de tênis de mesa, me solta: "se tênis de mesa é esporte olímpico, por que porrinha também não é?" (concordo, por sinal). poucos dias depois, sexta de noite, o mesmo cidadão estava vendo outra competição de tênis de mesa, entre um chinês e um sueco, nos intervalos da eliminatória de saltos ornamentais (a 3ª opção era hóquei de grama). aí sábado de manhã, final do vôlei feminino, continua o zapping com interesse no tênis de mesa.

aí eu tive que dizer "meu pai, você falou tão mal do tênis de mesa, mas toda hora eu flagro você assistindo! que absurdo!".

e ele? me diz "ah, é que eu estou esperando. no meio de tanto chinês, alguma hora vai aparecer um chamado MIN... GAU.".

realmente, realmente. humor masculino é isso, minha gente.

[tabajara mode on] mas não é só isso! [tabajara mode off]

ontem eu recebo um e-mail de minha irmã entitulado "mingau é mulher!", onde constava a classificação do ciclismo de estrada feminino e o destaque para o 16º lugar:

16. Min Gao (CHN) a 28s 17. Leigh Hobson (CAN) m.t.

é por esse tipo de coisa que eu adoro minha família.

p.s. ela jura que não ficou compulsivamente olhando todas as classificações de todas as provas dos jogos atrás de uma pessoa chamada Mingau, mas não sei não...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

alô, cristina! diretamente do cemitério!

observem o surrealismo da situação. se isso fosse cena de filme, iam dizer que era muita fantasia e que a realidade não é assim. então tá...

momento 2 - à meia noite encarnarei em teu cadáver

você está em sua casa quando é surpreendido por um telefonema do cemitério jaraguá, que seria totalmente desconhecido seu, se não houvesse enviado panfletos não solicitados a todos os apartamentos do seu prédio. até aí, as pessoas são capazes de comprar qualquer coisa, então, por que não um jazigo ou um túmulo?

mas voltando, toca o telefone. observem o diálogo.

- boa noite, senhora, aqui é do cemitério jaraguá. eu gostaria de saber se a senhora recebeu um folheto do nosso cemitério em sua residência.
- boa noite. recebi sim.
- a senhora saberia informar quando, e quem mandou?
- veja bem, não. só sei que recebi, mais de uma vez, folhetos de vocês. não sei precisar a data.
- mas saberia dizer quem mandou?
- infelizmente, não. mas eu me lembro que eles sempre vieram em envelopes em branco, ou seja, não foram enviados pelo correio.

preciso dizer que eu estava dando corda porque, além de achar surreal o telemarketing de cemitério, ainda fiquei com a sensação de que a pessoa estava tentando apurar uma falha de algum funcionário. afinal, por que outro motivo ela estaria querendo tanto saber quem mandou a porra do folheto?

continuando:
- ah, mas mesmo assim, vai o nome do funcionário escrito no folheto.
- bom, acredito em você, mas como eu já disse, não observei. além do mais, eu já joguei os folhetos fora (tentando fazer a pessoa se ligar).
- bom, tudo bem. mas então, a senhora não estaria interessada em adquirir um túmulo (realmente, não me lembro se ela disse túmulo, sepulcro, jazigo, cova ou lote, mas você entenderam) no cemitério jaraguá?

neste momento, eu tenho certeza de que a maioria de vocês teria desligado após um curto e grosso "NÃO". mas não eu. naquele momento, eu era a verdadeira antropóloga do telemarketing, querendo ver how far would those people go.

- não, não tenho. meus parentes nem moram em são paulo, eu sou de salvador.
- mas a senhora poderia comprar o jazigo/cova/lote/sepulcro/túmulo para uso próprio, e, quando morrer, já está tudo acertado.
- meu bem, entenda: eu tenho 31 anos. não estou pretendendo morrer tão cedo. e nem sou dessa cidade (que parte de "eu sou de salvador" você não entendeu?)
- mas e para algum parente?
- veja só, analise a situação comigo: você acha que se um parente meu morrer em salvador, eu vou trazer ele para ser enterrado aqui? você já imaginou quão complicado é transportar um cadáver de avião? fora o preço? (fora o cheiro)
- mas então, e para você? sabe, para garantir que na eventualidade (desde quando morrer é eventual?) do seu passamento, todas as despesas estariam pagas?

aí eu tive certeza de que não ia adiantar argumentar de forma minimamente sensata com a pessoa, porque percebam como ela fica se repetindo (total memória de peixe, ou então oligofrenia, vocês escolhem).

- não. se eu morrer, minha família paga a conta! entenda, eu vou estar morta, eu nem vou estar aqui para me importar com o trabalho que vai dar e com o dinheiro que vai custar! eles que se virem!

eu juro que não penso isso. mas já percebi que a gente tem que ser meio escroto pra fazer esse povo se tocar de que eles são bizarros. se é que eles se tocam, é mais fácil ficarem achando que você é que é o bizarro...

detentos & detidos

saiu ontem na coluna de monica bergamo, da folha de são paulo (original aqui):

INDEPENDÊNCIA
Estréia hoje, às 7h, na TV Justiça, "Saber Direito", programa diário que vai ensinar, entre outras coisas, como redigir um habeas corpus sem a ajuda de advogados. "Agora vou falar com você que está preso", diz o jurista que dará as primeiras aulas.


gente, só eu acho que "agora vou falar com você que está preso" é o novo "beijo pra penitenciária" de mara maravilha?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

onze de agosto

hoje, para os que não são da área, é data comemorativa no meio jurídico. dia dos cursos jurídicos no brasil, dia do advogado, dia do magistrado... e dia do pindura.

esta que vos escreve nunca deu um pindura na vida. sim, é verdade. no meu 1º ano de faculdade, eu não era a pessoa mais integrada com os coleguinhas, e nem me lembro mais se me chamaram e eu recusei ou se nem convidada fui. mas me lembro nitidamente de ter visto no noticiário da TV uma turma, também do 1º ano, mas da universidade católica, que foi parar na delegacia porque resolveu dar pindura em massa no baby beef, que é um restaurante de preços nada camaradas, sobretudo se geral resolve beber loucamente coisas como whisky.

claro que sendo eu a menina amarela que sou, medrosa de tudo o que signifique descumprimento de regras, sobretudo quando você pode ser punido por conta disso, acabei ficando impressionada com o ocorrido e, seja por isso, seja por outros motivos, acabei nunca participando de nenhuma pindura.

confesso, isso não exatamente me fez falta. afinal, se por um lado eu, como basicamente a grande maioria das pessoas, queria me sentir parte de um grupo, por outro, não exatamente concordava com essa história de um fulano comer num restaurante e não pagar a conta só porque é estudante de direito e instituíram essa tradição (que, claro, é defendida pela classe jurídica e provavelmente abominada pelos donos de restaurantes).

para quem está tentando entender de onde foi que surgiu uma tradição tão cara-de-pau, transcrevo aqui um texto do ilustríssimo presidente da OAB/SP, órgão de classe de cujo quadro eu faço parte (o texto é tão velho que ele, na época, nem era presidente da Ordem):

"A tradição do Pendura
Prof. Luiz Flávio Borges D'Urso (*)

No dia 11 de agosto comemoramos a fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil, criados por ato do Imperador Dom Pedro I, que estabeleceu:

"Dom Pedro Primeiro, por graça de Deus e unânime aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.
Fazemos saber a todos os nossos súditos que a Assembléia Geral Decretou e nós queremos a lei seguinte:
Art. 1º - Crear-se-hão dous cursos de Ciências Jurídicas e Sociais, um na cidade de São Paulo e outro na de Olinda e neles no espaço de cinco anos e em nove Cadeiras, se ensinarão as matérias seguintes [...]
Dada no Palácio do Rio de Janeiro aos onze dias do mês de agosto de mil oitocentos e vinte e sete, Sexto da Independência.
(a) Imperador Pedro Primeiro".

A partir dessa data foram abertas as portas para que os brasileiros pudessem estudar ciências jurídicas e sociais em sua terra natal. Assim, o dia 11 de agosto tornou-se a data mais significativa para o contexto jurídico brasileiro, sempre comemorada, perpetuando a tradição do pendura entre os acadêmicos de Direito.

De origem não muito bem definida, conta-se que o pendura pode ter nascido de uma antiga prática dos proprietários que formulavam convites para que os acadêmicos, seus clientes, viessem brindar a fundação dos cursos jurídicos, no dia 11 de agosto, em seus restaurantes, oferecendo-lhes, gentilmente, refeição e bebida.

Com o passar dos tempos, os convites diminuíram e foram acabando, obrigando assim que os acadêmicos se auto-convidassem. Graças a essa iniciativa, a tradição foi mantida até nossos dias, consistindo em comer, beber e não pagar, solicitando que a conta seja "pendurada". Tudo isso, é claro, envolvido num imenso clima de festa.

Ritual - O verdadeiro pendura, segundo a tradição, deve ser iniciado discretamente, com a entrada no restaurante, sem alarde, em pequenos grupos, para não chamar a atenção. As roupas devem ser compatíveis com o local escolhido.

Deve-se procurar uma mesa em local central, quanto mais visível melhor. Prossegue-se, com bastante calma, observando-se cuidadosamente o cardápio, inclusive os preços, que sabe não irá desembolsar. O pedido deve ser normal, discreto, sem exageros, admitindo-se inclusive camarões e lagostas.

Quanto à bebida, os jovens devem ser comedidos, pois dela necessitam para aquecer suas cordas vocais, preparando-as para o discurso de agradecimento ao gentil convite da casa. Todavia, a bebida em demasia pode transformar o discurso e o pendura num desastre.

Ao final, quando satisfeitos, após evidentemente a inevitável sobremesa, pede-se a conta, lembrando-se de um detalhe que faz parte da tradição e não pode ser desrespeitado, que é o pagamento dos 10% da gorjeta do garçom.

Após isso, o líder e orador deverá levantar-se e começar a discursar, sempre saudando o estabelecimento e seu proprietário, agradecendo o convite e a hospitalidade, enaltecendo a data, os colegas, a faculdade de origem, o Direito e a Justiça, tudo isso, sob o estímulo dos aplausos e brindes dos demais colegas do grupo.

Esse é o verdadeiro pendura, que pode ser aceito ou rejeitado. Caso aceito, ficará um sabor de algo faltante! Agora, se rejeitado, deve partir dos estudantes de Direito a iniciativa de chamar a polícia e de preferência dirigindo-se todos à Delegacia mais próxima, o que lhes dará alguma vantagem pela neutralidade do terreno.

Variações - Existem também outras modalidades do pendura, que são distorções da tradição, conhecidas pelas alcunhas "troglodita" e "diplomática".

A primeira, "troglodita", bastante primitiva, consiste em, após a refeição, sair correndo do restaurante, levando no peito tudo e todos que estiverem à sua frente, nivelando os estudantes ao "gatuno" que foge para não ser apanhado cometendo algo errado. Esta modalidade deve ser evitada, pois tal conduta poderá caracterizar o crime de dano, caso algo seja destruído.

Note-se que não há crime na tradição do pendura, pois o delito preconizado pelos pendureiros frustrados - aqueles que sempre desejaram pendurar, sem coragem para tal - confunde-se com o tipo penal no qual o sujeito realiza refeição sem que tenha condições para seu pagamento, caracterizando o crime.

No pendura, a refeição é realizada; todavia, o estudante deverá ter consigo dinheiro, cheque ou cartão de crédito; portanto, meios para pagar a refeição, descaracterizando o tipo penal e afastando o delito, de modo que, embora tenha condições para pagar, não o fará em respeito à tradição.

Na outra modalidade, "diplomática", mais pacífica, a diplomacia determina que os acadêmicos devam solicitar reservas, revelando o pendura e somente com a concordância do proprietário, fazem a refeição e saciam sua fome, mas não a tradição, posto que fica o estudante de direito nivelado ao que mendiga um prato de comida.

Todas as inovações devem ser evitadas, preservando-se a tradição do pendura, com o indispensável discurso, rememorando o papel daqueles moços que fizeram os caminhos de nosso País, estimulando assim o empenho destes outros moços, jovens, para que transformem os destinos da nação!

(*) O Prof. Luiz Flávio Borges D'Urso é advogado criminalista, presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abrac), professor de Direito Penal, conselheiro e diretor cultural da OAB/SP, presidente do Conselho Estadual de Política Criminal e Penitenciária de São Paulo, mestre e doutorando em Direito Penal pela Universidade de São Paulo e presidente da Academia Brasileira de Direito Criminal (ABDCRIM).
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atualmente, mais velha, (bem) mais chata e cagando pra certas pressões que sofremos ou podemos sofrer quando mais jovens, eu digo; pindura? sou contra. até porque as pessoas perderam a noção, e nem fazem mais nos locais que freqüentam, pagando, o ano todo. é a desculpa perfeita para ir a restaurantes caros e querer, na cara-de-pau, não pagar. está aí um belíssimo precendente para as carteiradas pelas quais toda a classe jurídica é acusada (diga-se de passagem, no mais das vezes, a acusação é procedente). vamos começar, desde estudantes, a achar que existe um regime de exceção que é feito sob medida para os profissionais de Direito. e depois reclamam que a classe é odiada mundo afora. por que será, hein?

se você dá, já deu ou pretende dar pindura (eu disse pindura!), seja feliz. de verdade. não acho que seja um crime contra a humanidade, nem nada parecido. mas não consigo aplaudir, tampouco.

p.s. aproveito para parabenizar os colegas advogados (lembrando sempre aque as únicas profissões que têm "colegas" são advogado e puta), os magistrados e os estudantes de direito. afinal, hoje é o nosso dia, e as homenagens cabíveis devem ser feitas (quem achar que jogar ovo é homenagear, se prepare para tomar uma bicuda na canela).