Páginas

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

chame o ladrão - parte II

é tão bonito quando os coleguinhas não apenas lêem o blog, mas também complementam a notícia. é uma coisa "botando lenha na fogueira" que me encanta deveras. rené, muchas gracias!

e aí que saiu na folha de são paulo de hoje a notícia mais explicada sobre nosso amigo ladrão protetor das crianças. vamos lá?

Ladrão furta carro e, após achar criança no banco, chama polícia

No telefonema, o criminoso informou os policiais onde havia deixado o veículo com o menino e ainda fez ameaças aos pais dele

Garoto de 5 anos foi deixado dormindo no carro pela mãe e pelo padrasto, que estavam em bar; caso ocorreu em Passo Fundo (RS)

MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

Ao notar que um menino de cinco anos dormia no banco do carro que acabara de furtar, em Passo Fundo (310 km de Porto Alegre), um ladrão abandonou o veículo e ligou para a polícia para reclamar do pai da criança.

No telefonema ao plantão da Brigada Militar (a PM gaúcha), na madrugada de ontem, o criminoso deixou recado ao dono do carro, um Monza 1983: "Fala pro filha da puta do pai dele pegar ele [sic] e levar pra casa o piázinho [menino]. (...) E diz pro filho da puta do pai dele que a próxima vez que eu pegar aquele auto [carro] e tiver um piá lá eu vou matar ele".

O ladrão ainda ouviu um "ok" do soldado de plantão antes de fornecer a localização do carro. O homem não havia sido localizado até a noite de ontem.

"É por isso que não se pode perder a esperança na humanidade", disse a delegada Claudia Crusius, que investiga o furto. Ela disse que não vai pedir a prisão do ladrão porque ele agiu com "bom senso".

Segundo Crusius, a ligação foi feita cerca de 15 minutos após o Monza ser levado de onde estava estacionado, em frente a um bar e restaurante no centro da cidade. A mãe e o padrasto do menino estavam no local e só souberam do caso quando carro e criança já haviam sido encontrados.

O menino ainda dormia no banco traseiro quando os soldados chegaram à rua do bairro Vila Operária em que o carro fora deixado. A mãe tem 22 anos, e o padrasto, 46. A Brigada Militar, a Polícia Civil e o Conselho Tutelar não informaram seus nomes.

Responsabilidade

O caso também será investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Passo Fundo. Segundo o delegado Mário Pezzi, a mãe e o padrasto podem ser indiciados por suspeita de abandono de incapaz -quando o responsável abandona pessoas consideradas incapazes de se defender. A pena prevista vai de seis meses a três anos de prisão.

O inquérito, disse Pezzi, deve ser concluído em dez dias. "Existem fortes indícios de que houve abandono, mas queremos ouvir as testemunhas."

Ao Conselho Tutelar a mãe relatou ter ficado pouco tempo no bar e que havia descido do carro só para "entregar uns papéis". Disse que pararam no local após voltarem de uma festa.

Segundo a conselheira Carla Vargas, a mãe afirmou ainda ter deixado os vidros do carro abertos para que o menino respirasse. Ela foi advertida e terá de freqüentar terapia familiar, enquanto a criança passará por atendimento psicológico.

"Pelo que soubemos, a criança só acordou ao final de tudo, continuou dormindo depois que o carro foi furtado. Mas a mãe disse que o garoto está tranqüilo e nem chorou."

Vargas informou que o pai do menino vive em outra cidade, mas disse não saber qual é.
"A mãe está muito assustada. Ela foi negligente. Os pais nunca podem pensar que o pior não vai acontecer com eles. A criança correu riscos."

Após o episódio, foi constatado que o carro não tinha documentos. O veículo teve que ser removido a guincho do local.

entrevista

Para delegada, há "esperança na humanidade"

DA AGÊNCIA FOLHA

A delegada Claudia Crusius, que investiga o caso do homem que devolveu um carro furtado com um menino dentro, em Passo Fundo (RS), disse que não pretende pedir a prisão do ladrão. Afirmou que o homem teve "bom senso" e que sua atitude a levou a manter a "esperança na humanidade".


FOLHA - A sra. sabe dizer quanto tempo o bandido levou para perceber que havia uma criança no carro?
CLAUDIA CRUSIUS - Pelos horários das ocorrências, 15 minutos. Ele percorreu uma distância razoável. O local de onde [o carro] foi levado é bem no centro [de Passo Fundo], e foi recuperado em uma vila.

FOLHA - A criança não percebeu que tinha sido levada?
CRUSIUS - Fui informada que ela dormia o tempo todo.

FOLHA - O ladrão demonstrou indignação com o possível abandono?
CRUSIUS - Ouvi dizer que o tom era de indignação. É por isso que não se pode perder a esperança na humanidade.

FOLHA - Isso "alivia" o ladrão, caso ele seja identificado?
CRUSIUS - Ele saiu de casa com um ânimo errado e acabou tendo um bom senso que os pais não tiveram. Ele, entre aspas, "perdeu o trabalho dele", que era o veículo furtado, para poder proteger essa criança. Se fosse uma pessoa de má índole, poderia dizer "azar, o problema não é meu, quero ficar com o carro", e poderia jogar a criança no chão. Basta lembrar o caso do Rio [quando o menino João Hélio ficou preso ao cinto de segurança de um carro roubado e morreu arrastado]. Se identificarmos quem praticou o furto, não pretendo pedir sua prisão.

FOLHA - Os pais já tinham avisado a polícia após o furto?
CRUSIUS - Eles não sabiam. Quando a Brigada [Militar] recebeu a ligação, o rapaz disse onde tinha furtado o carro. Então a Brigada foi até lá e perguntou pelos donos do carro. Só então souberam do caso. (MP)

gente, só piora, não? o que é essa entrevista? o que é a bronca do ladrão? o que é o bom senso como excludente de ilicitude?

como diria o rei roberto carlos, são muitas emoções. e eu vou dormir.

2 comentários:

paula disse...

quando eu estudei, arrepndimento posterior apenas diminuia a pena. mas arrependimento posterior com bom senso deve valer mais.

paula disse...

gol de goleiro vale mais = bom senso de criminoso vale mais

pq não?