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terça-feira, 3 de junho de 2008

da série: tolerância zero

ela veio de uma família com mais 7 irmãos. sempre teve personalidade forte, e peitava as freiras do colégio. aliás, peitava todo mundo. ao contrário do que era esperado para ela na época, não quis ser professora. foi cursar direito, ao mesmo tempo em que tinha mil amigos, fazia teatro dos novos e cuidava da própria vida.
aí ela conheceu ele, que era quieto, mas engraçado. e depois de um tempo namorando, conheceu a família dele. e eles combinaram de se casar.
aí começou. a família dela vivia perguntando: - quando você vai parar de trabalhar?
tal idéia nunca passou pela cabeça dela. e ela dizia que não ia.
a família dele achou que ela provavelmente pararia de trabalhar quando se casasse, o que, evidentemente, não aconteceu.
aí, ela ficou grávida. e a família dele perguntou: - bom, agora que seu filho vai nascer, você vai parar de trabalhar, não é?
e ela, claro, jamais pretendeu parar de trabalhar por causa disso. teve o filho, ou melhor, a filha, num dia de sábado, sendo que trabalhou até sexta. e ainda foi andando para o hospital.
a filha cresceu, eles resolveram ter outro filho, e a família dele, de novo, perguntando quando, afinal, ela ia deixar de trabalhar. e achando que agora, com 2 filhos, ela, claro, ia parar.
ela, claro, não ia. de novo, trabalhou até sexta, o bebê se manifestou sábado, nasceu uma menina, receba os presentes (desculpem, foi inevitável não lembrar do jogo da vida) e ela, claro, continuou trabalhando, e bastante.
criaram bem as duas filhas, o que prova que é possível trabalhar fora e educar bem as crianças (que depois viram adolescentes).
até que um dia, quando a filha mais velha estava com seus 19 anos, ele descobriu que ia trabalhar no exterior. a família dele, agora, não teve dúvidas de que ela ia parar de trabalhar para ir morar com ele lá fora.
ela não teve dúvidas de que ia, sim, continuar trabalhando no brasil, até porque ele continuaria vindo para cá periodicamente. e continuou a labutar, até o dia (cerca de 9 anos depois) em que, de saco totalmente cheio de trabalhar na empresa em que estava, se aposentou.
as filhas acharam que ela ia pirar na batatinha sem trabalhar, mas isso não aconteceu.
aí ela está num almoço na casa da família dele. e resolve contar a novidade à mulher do primo dele.
- sabe a novidade? parei de trabalhar.
a mulher do primo responde:
- sério? e o que você vai fazer agora?
ela, com o saco na lua, responde:
- cheirar pó.
- hã... cheirar pó?
- é. cheirar pó.
na saída do almoço, a filha mais nova diz:
- pô, minha mãe, como é que você disse a fulana que você vai cheirar pó? tá louca?
- ah, ela viu que era brincadeira.
- não, pelo seu tom, ela não viu, não.
- ah...! também, que saco! ficam a vida toda querendo saber quando eu vou parar de trabalhar e quando eu digo que parei, querem saber o que é que eu vou fazer? ah, tenha paciência!

9 comentários:

Anônimo disse...

Primeiramente, eu tinha que ser a zerinhu a comentar esse post!

Gente, CV é ídAla! Juro que, caso eu vá mesmo pr'aí, quero tirar uma foto com ela.

Cheirando pó, claro. =P

Anônimo disse...

Eu mega imagino CV protagonizando essa cena ehehehee.
E tb a cara de pânico das pessoas. Quer dizer, pra quem conhece CV há meia hora, não é de se estranhar esse comentário :-p

fabiana disse...

Sua mãe é tão cosmopolita...

paula disse...

É claro que quando eu ouvi esse causo pela primeira vez, pude imaginar perfeitamente a entonação. Mas aí Ela me contou a cena.

Ouvir da boca de CV, revivendo a emoção/irritação do momento, CHEIRAR PÓ. hahaha é como o que o Credicard (de Bill Gates) não pode comprar: não tem preço.

Unknown disse...

HAHAHAHAHAHAHA! Amei, tbm virei fã!
(embora eu seja a única deslocada que não sabia o nome e nem o grau de parentesco da protagonista...)

Anônimo disse...

entao quer dizer que a minha tia, além de cheirar pó nessa nova fase da vida (acabei de descobrir), tornou-se CV...
natal promete esse ano!!!
Brincadeira Julie....
Mas caso meu livro de presente de natal esse ano seja Medo e delírio em Las Vegas, as coisas vão começar a embaralhar na minha cabeça....

Anônimo disse...

Gente, mas que fofoquê interno é esse? Fico aqui, sem conhecer nem saber nada de CV.

Mas gostei dela. Aliás, amei uma comunidade do orkut que encontrei estes dias: "Que bicho mordeu a Elis?". Ela sempre dava respostas desse tipo, semelhantes também às minhas.

Eu regozijo com esses lances.

Anônimo disse...

Aliás, eu voto desde DJÁ e sempre em Julie para escritora de profissão. Ô muié danada, meu deus!

très julie disse...

pessoas, CV é minha mãe. essas são as iniciais dela, e, coincidentemente, do comando vermelho. sentiram a vibe?

gabi, se você ganhar medo e delírio em las vegas (o livro de presente do ano, eu e CV contribuindo para aumentar a sua biblioteca), saiba que foi uma escolha minha. sou a única pessoa dessa casa que já leu esse livro, eu acho (e inclusive tenho, e acho bom, poliana, que eu sei que está lendo, você me devolver).