obviamente, eu não acho que pintar o cabelo seja meio idiota, tanto que faço isso desde o 2º ano da faculdade, sendo que estou formada há 9 anos (e lá se vão 13 anos). o caminho foi mais ou menos o que dizem por aí que é o das drogas: você começa com algo quase inocente, como cigarrinhos de
aí, aproveitando as maravilhas do dólar paritário com o real e da existência da king market (uma loja local de importados que foi a primeira que começou a vender todos os produtos importados que eu conhecia lendo a seventeen), e cansada do trabalho que dava a tal da henna, passei para um tonalizante da clairol. pensando nele hoje em dia, eu rio: era uma garrafinha com o produto já pronto, não tinha que misturar com nada (alõ, amônia? alô, peróxido de hidrogênio?). e eu achava que fazia o maior efeito.
aí, certa feita, inventei de comprar um daqueles clareadores de usar na praia, spray, também na finada king market. sabe como é, eu queria um cabelo ruivo, mas um ruivo verão. e tipo, foda-se que cabelo laranja não combina com pele bronzeada (alguém pensou em alcione?).
fui ficando mais espertinha e apelando pras drogas mais pesadas também: comecei com um "soft tonalizante", passei pro tonalizante de verdade (que o povo chamava de shampoo colorante) e no fim acabei me jogando nas tintas categoria "cobre 100% dos cabelos brancos" (eu não tenho nenhum, é só pra mostrar que, com elas, você vai de fato mudar a cor do seu cabelo), e é nessa categoria que eu estou.
(se você continua pensando na analogia com as drogas, saiba que isso não é o equivalente ao fundo do poço. no mundo dos cabelos tingidos, a coisa mais estúpida - a.k.a. ir atrás privada adentro do supositório cagado - que você pode fazer é acreditar que é capaz de, em casa, fazer luzes e mechas, e comprar algo do tipo "koleston highlights". mais detalhes no fim do post)
claro que o processo de ficar ruiva não transcorreu tranquilo, né? porque tinta vermelha mancha a pele, fica soltando dos cabelos quando você lava durante um tempo (ou seja, uma, duas, três, quatro semanas usando só roupa escura depois de dia de lavar o cabelo), dependendo do tom não combina com qualquer roupa, logo que você pinta é uma cor, que vai desbotando ao longo do tempo e muda totalmente, e vira outra (engraçado que é nessa fase que costuma ficar melhor). da última vez que eu pintei, fiquei com a testa e as orelhas cor-de-rosa e o cabelo levou uns 40 dias (quarenta dias!) soltando tinta quando eu lavava.
(graças a isso, e minha mãe me obrigou a prometer que eu iria, da próxima vez, pintar num salão, que ela ia pagar. eis que estou há quase 5 meses sem pintar, com uma raiz nada digna, nem um pouco a fim de gastar 160 r$ num salão - isso sem contar lavagem, a hidratação que sempre te empurram e a escova pra sair de lá com um cabelo que não corresponde à sua realidade e só te deixa frustrada quando você lava -, mas felizmente achei uma pessoa que vem em casa e cobra um preço deveras honesto. de forma que esta semana eu devo, finalmente, resolver este assunto.
e aí vou poder cortar o cabelo, né? porque aonde que eu vou no salão com esses 10 cm de raiz, pro cabelereiro me fulminar daquele jeito humilhante que só eles são capazes? nem morta!)
lendo tudo o que eu escrevi, que não é um centésimo do que eu poderia contar sobre o tema, me ocorre que, de fato, ser ruiva virou parte do que eu considero minha identidade. porque não é de graça, requer cuidados e retoques, tem a fase pós-tintura que é um saco, e até já gerou muito stress familiar.
para ilustrar minha insanidade e, ao mesmo tempo, explicar a alta nocividade do famigerado koleston highlights, vou narrar um episódio.
eis que ainda na época da faculdade, sabe deus o motivo, resolvi eu ir fazer tintura no salão (coisa inédita na minha vida até então). claro que não gostei, o povo acha que você chega lá pedindo um ruivo, ele passa um tonalizante castanho avermelhado e é a mesma coisa. mas não disse nada, achei que ia me acostumar. aí chego em casa e vejo que eu estou quase morena outra vez, lembro que tinta não clareia tinta, e tenho uma brilhante ideia: eu compro um kit koleston highlights, um tonalizante soft color granada e faço belas e interessantes mechas num tom mais avermelhado, pra abrir o tom do cabelo.
na teoria, tudo certo. na prática, as mechas não eram nada belas e interessantes, mas mediam tipo 10 cm de largura e tinha um tom de cabelo de pagodeiro. mas calma, que com o tonalizante elas ficarão vermelhas.
lavei o cabelo, tirei a tinta, e me olhei no espelho.
grande hera! /mulhermaravilha
pense em merthiolate. pense em lava incandescente. pense na camisa da seleçao da holanda. você está tendo uma noção da cor que as mechas ficaram.
minha mãe viu e deu UM ESCÂNDALO (alguém avisa que o cabelo é meu?), no nível de dizer coisas, dizer mais coisas, dizer ainda mais coisas, e que eu isso, e que eu aquilo, e, quando eu fui dormir e apaguei a luz do quarto (para parar de ouvir bronca, não basta estar com o cabelo cagado?), ela ignorou, e ficou na porta do meu quarto falando, para a escuridão, mal do meu cabelo.
eu não quis dar o braço a torcer e dizer que tinha odiado (mas, pensando bem, podia, né? e com isso, ganhava uma ida ao salão pra consertar o estrago), então, no dia seguinte, acordei cedão, fui à farmácia e comprei um imedia louro escuro vermelho intenso 6.66 (se você acha os nomes de tintas de cabelos interessantes, aguarde o post analisando as cores de esmalte e seus nomes) pra cobrir tudo. e funcionou, porque ela disse, no café da manhã, que vendo de dia, até que não estava TÃO ruim.
mas o orgulho cobrou seu preço. e alto. depois de, vamos contar, uma tintura no salão, um
pois é. e depois disso, eu parei de pintar? não. continuo aí, junkie de tintas vermelhas, ouvindo de vez em quando meu pai me chamar de pica-pau. tentei a rehab de voltar pro castanho e nunca durou mais que 3 meses (fico achando sem graça), então assumi de vez (ui!). e agradeço se inventarem logo uma tintura em forma de pílula que você engole e seu cabelo nasce da cor que você quer. se já botaram uma orelha nas costas de um rato e clonaram uma ovelha, não deve demorar muito...