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quinta-feira, 12 de junho de 2008

poetinha

porque é sempre bom aproveitar a data para pensar em coisas bonitas, ao invés de nos medonhos corações abraçadores.


Para uma menina com uma flor

Vinicius de Moraes

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.


in "Para uma menina com uma flor (crônicas)"
in "Poesia completa e prosa: "Para uma menina com uma flor""

terça-feira, 10 de junho de 2008

recordistas, graças a deus

gente, dentre as coisas que eu realmente não entendo, está o desejo humano de bater recordes. se é uma coisa esportiva, ainda vá lá. mas quando eu penso, por exemplo, em padre aderli de carli, com seu nome de chacrete e sua vontade de sair voando com mil balões de gás e, assim, bater um recorde... sei não, começo a duvidar da sanidade dessa galera.

de qualquer forma, hoje eu li na internet uma matéria interessante: perguntas e respostas ao editor do livro guiness dos recordes (leia o original aqui).

Freakonomics.com: uma sessão de perguntas e respostas de quebrar recordes
O editor do "Livro Guinness de Recordes" responde as suas perguntas

Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt

Quando você pensa no famoso "Livro Guinness de Recordes", você se pergunta o que aquelas pessoas tiraram de quebrar esses recordes? Ou quais foram as piores tentativas para entrar no livro? Ou qual foi o recorde mais difícil de se verificar? Ou quanto álcool, exatamente, o homem mais baixo do mundo pode tomar?

Essas são algumas das questões enviadas pelos leitores do Freakonomics quando solicitamos suas perguntas para Craig Glenday, editor do livro dos recordes. Glenday teve algumas respostas interessantes, gerando uma sessão de perguntas e respostas envolvente.

Pergunta - Qual foi o recorde mais difícil de ser verificado?
Resposta - Os recordes mais difíceis de se verificar são os que envolvem perder o contato com os concorrentes. Tome por exemplo, dar a volta ao mundo correndo no tempo mais rápido. Até o recente advento do GPS e o olhar vigilante da mídia global, era quase impossível saber com certeza se alguém não havia roubado com uma ocasional corrida de táxi ou avião. Pedimos o maior número possível de fotografias, selos de passaporte, diários, testemunhos de autoridades e assim por diante, mas há um elemento de fé envolvido.

Eventos de participação em massa podem ser um pesadelo. Imagine um campo com 100.000 pessoas escovando os dentes simultaneamente, ou fazendo aeróbica ou dançando salsa. É incrivelmente desafiador contê-las em uma área e contá-las, mas adotamos métodos particularmente rígidos para acertar esta parte (só não acorrentamos todos!).

Um último ponto: se tivermos evidências que não podemos avaliar plenamente, não temos opção senão desqualificar o pedido. Isso pode ser extremamente frustrante para alguém que investiu muito tempo e esforço em seu recorde, e no final nos ouve dizer não por um aspecto técnico, como um vídeo incompleto ou um dia faltando no diário - mas nos esforçamos para ser o mais honestos e precisos quanto possível.

Pergunta - Aproximadamente, quanto recordes são quebrados por ano, e qual foi a variação desse número com os anos?
Resposta - Recebemos cerca de 40.000 a 50.000 pedidos de recordes a cada ano, cerca de 95% dos quais não se traduzem em um recorde mundial. Cerca da metade dos candidatos recebe as orientações oficiais e param ali, afastados pela escala e pelo nível de complexidade do recorde, que muitas vezes vai além das expectativas do candidato. A maior parte dos pedidos é rejeitada por não cumprirem a marca, por não seguirem as diretrizes ou por serem estúpidos demais e irresponsáveis demais, chatos demais, específicos demais, etc. Então, cerca de 2.000 novos (ou seja, categorias inteiramente novas e recordes existentes que são atualizados) são introduzidos ao banco de dados por ano.

Pergunta - Dos recordes para os quais vocês ainda aceitam pedidos -e dos recordes para os quais vocês não aceitam mais pedidos- qual é o mais perigoso?
Resposta - De longe, a categoria mais perigosa, na minha opinião, é o Mergulho Banzai. Este envolve pegar um avião para uma altitude determinada (3.000 m), jogar seu pára-quedas pela porta e esperar o máximo possível antes de pular atrás dele. O alvo, então, é claro: queda livre na direção do pára-quedas, até pegá-lo, amarrá-lo e acioná-lo antes de atingir o solo. A espera mais longa até hoje foi, incrivelmente, de 50 segundos, por Yasuhiro Kubo, do Japão. Por que aceitamos isso e, no entanto, não permitimos tentativas como a travessia de carro dos EUA mais veloz ou a maior viagem a cavalo? É assim que fazemos distinção, de fato: se você coloca sua vida em risco, tudo bem; se você coloca a vida de outro em risco, não pode.

Então, não aceitamos mais pedidos de recordes para:

- longas viagens a cavalo (cruel para o cavalo).

- viagens de carro mais rápidas pelo mundo, ou atravessando o país, ou qualquer outra de ponto a ponto. (coloca outros usuários da estrada em risco).

- mais jovens cirurgiões (coloca o paciente em risco; tivemos que envolver a polícia em um caso recente, quando um menino de 15 anos executou uma cesariana para estabelecer um recorde mundial!).

- a cirurgia mais rápida (coloca o paciente em risco).

- os mais jovens halterofilistas (não acreditamos que as famílias não vão drogar seus filhos com esteróides).

- mais jovem corredores de maratona (ouvimos falar de uma família que treinava seu filho até quase matá-lo para melhorar seu tempo de maratona; agora, a idade limite para tal teste de resistência é 14 anos para esportes de impacto mais suaves ou 18 anos para qualquer outra coisa).

Pergunta - Qual é o critério definitivo para estabelecer qual recorde é aceito e qual não é?
Resposta - Temos uma série de critérios básicos que definem o que constitui um bom recorde mundial do Guinness. A tentativa deve ser:

1. Mensurável: recebemos tantos pedidos para o mais belo isso, ou o mais indulgente aquilo, mas, se você não puder medir, pesar ou contar suas partes, então não estamos interessados.

2. Superlativo: estamos atrás dos maiores, melhores, mais pesados, mais leves, mais escuros etc., então precisamos de apenas uma descrição superlativa. Assim ficam excluídos o mais rápido homem mais alto; o mais velho autor mais traduzido e assim por diante. Seja simples.

3. Superável: queremos estimular as pessoas a estabelecerem metas, alcançá-las, depois estabelecerem novas metas, mais impressionantes e lutar para superá-las também. Então, gostamos da possibilidade do recorde ser quebrado.

4. Específico: O maior problema para nós é o candidato que corre uma maratona com um livro em sua cabeça, consegue o recorde mundial para a maratona mais rápida corrida com um livro na cabeça e depois volta no ano seguinte exigindo que reconheçamos sua mais rápida maratona corrida com dois livros na cabeça. Ele quer dois recordes, não um, para efetivamente a mesma conquista.

5. Interessantes: os recordes devem ser relevantes para o maior número de pessoas possível. Tivemos, por exemplo, um pedido para a mais longa parede de salsichas, uma criação tradicional de uma pequena aldeia na Hungria, eu acho. Além de não conseguir atingir o grau em vários níveis (o que o impede de tentar com uma parede de queijo ou uma parede de bananas, etc.) é específico demais a uma aldeia. E estranho demais.

Pergunta - Qual recorde foi mais quebrado?
Resposta - a mais longa maratona de DJs no rádio (23 tentativas de sucesso desde 1999). A mais longa maratona de DJ no rádio foi de 135 horas por Stefano Venneri (Itália) na estação Radio BBSI, em Alexandria, Itália, de 21 a 26 de abril de 2007.

A maior pintura a dedo (17 pedidos de sucesso). A maior pintura a dedo media 1.523 m2 e foi criada por 650 pessoas da comunidade em um evento organizado pelo Baps Swaminaryan Sanstha, no Festival Brent Respect, em Roundwood Park, Londres, no dia 8 de julho de 2007.

O maior abraço grupal (16 tentativas de sucesso). O maior abraço grupal envolveu 6.623 participantes que se reuniram no parque Chamizal em Juarez, México, no dia 25 de setembro de 2005.

Pergunta - Além de ter seu nome no livro, há outros benefícios de ser detentor de recorde?
Resposta - Primeiro de tudo, um lembrete: conseguir um recorde mundial Guinness não garante sua entrada no livro (como dizem as letras pequenas do certificado)! A única coisa que você garante é o seu certificado.

Alguns detentores de recordes desistiram de seus empregos para se concentrarem somente em suas conquistas de recordes. Elaine Davidson, por exemplo, a mulher com mais piercings do mundo (com 4.225 piercings dentro e fora do seu corpo, no dia 8 de junho de 2006) fechou seu restaurante em Edimburgo, Escócia, para se dedicar a mostrar seus piercings em convenções, programas de televisão e assim por diante. Ela conseguiu fazer disso uma carreira.

Pergunta - Quantas cervejas são necessárias para deixar o homem mais baixo bêbado?
Resposta - Ele certamente consegue beber muito - junto com alguns cigarros!

Pingping -o homem mais baixo com mobilidade, de 74 cm- e eu fomos convidados de honra ao jantar de um jornal da Mongólia patrocinado por um grande produtor de leite chinês.

Como convidados de honra, Pingping e eu éramos continuamente abordados na mesa, brindados e depois estimulados a tomar nossos drinques de uma só vez, com o grito de "Gambei!" (provavelmente quer dizer algo como "entorna!"). Eram 15 convidados no jantar, e muitos deles fizeram brindes repetidos -além de minha própria necessidade de brindar os meus anfitriões. Então, não será surpresa quando eu disser que perdi completamente a conta de quantos drinques tomamos. Nós dois cambaleamos para fora, adornados com meia dúzia de lenços de seda, muito bêbados.

Tradução: Deborah Weinberg

queria dizer umas coisas:

- imaginem que desespero seria um campo com 100 mil pessoas escovando os dentes ao mesmo tempo. de onde ele tirou esse exemplo? não me diga que isso é um recorde, por favor;

- imaginem que pânico ser paciente dos candidatos a recorde do mais jovem cirurgião e do mais rápido cirurgião;

- imaginem se a gente bate o recorde do abraço coletivo no evento "abraçando arembepe"? hum, pensando bem, não vai rolar, a não ser que arranjemos mais gente;

- imaginem se uma pessoa com 4.225 piercings dentro e fora do seu corpo consegue entrar num banco ou viajar de avião sem disparar todos os alarmes detectores de metal das redondezas? mánunca!

ainda o dia dos namorados

eu sei que está parecendo que eu estou fazendo campanha CONTRA a data, mas nem é. é que pela proximidade, o mundo surta cada vez mais e eu junto.

o oba-oba me mandou uma mensagem "especial dia dos namorados". olhem só:

"A data comemorativa mais amada e odiada do ano é o Dia dos Namorados. Alguns casais aguardam pelo dia 12 de junho ansiosamente, trocam presentes, saem e vão se divertir. Já os solteiros não têm muitas opções, ficam em casa ou vão para a pegação.

Uma coisa é certa, esse dia não pode passar em branco. Para o proveito dos pombinhos, sugerimos roteiros dos mais românticos aos mais calientes, além de darmos dicas de presentes criativos. Se você está sozinho, aproveite os roteiros recomendados para diversos tipos de solteiros, dos deprês até os pegadores!"

em primeiro lugar, eu queria dizer que eles estão certos quanto à parte de que os solteiros, nesta data, não têm muitas opções. vejam bem, eu nunca experimentei ir para o bar (bar mesmo, buteco, não barzinho) no dia 12/06 (e estou considerando experimentar esse ano, quem quiser que me acompanhe), mas nunca pude sair para jantar, e já fui pra balada com amigas.

e eu acho UÓZÍSSIMO essa coisa de "festa dos solteiros no dia 12", que significa na verdade "e viva a putaria". se estivesse todo mundo na vibe da pegação pura e simples, a coisa era até mais compreensível. mas tem muita gente - sobretudo meninas - com a esperança de beijar no dia 12/06 e com isso, acontecer uma "mágica" e começar um namoro, assim, despretensiosamente. e quem está solteiro e resolveu se enfiar nesse tipo de programa, muitas vezes, quer aproveitar a data para mostrar ao mundo que está bem feliz sozinho. e aí, a festa vira um campo de guerra onde você não dá dois passos e tem gente se atracando. eu fui uma vez ao lanterna onde minha lembrança é a de ter ficado sentada no batente ouvindo um cara tocar músicas chatas no violão e de repente olhar e ter uma menina com uma calça jeans onde tinha a cara de um urso pintado em cada joelho. ISSO é deprimente, não o fato de eu estar, na época, solteira.

pra mim, festa dos solteiros é igual a terça-feira de carnaval: uma urgência de se divertir de forma semi orgiástica, bebendo, pegando gente, aprontando e até usando entorpecentes, naquele desespero de "é minha última chance de poder fazer isso". gente, recadinho: todo carnaval tem seu fim é só o nome de uma música dos los hermanos, valeu?

p.s. sou totalmente a favor do dia 12 passar em branco, se é a vontade do cidadão, seja ele namorado, casado, amigado ou solteiro.

p.p.s. o oba-oba apóia nossa campanha pela criminalização do coração com bracinhos. e eu embegei, a foto que tem no site mostra EXATAMENTE o coração que eu descrevi. leiam a matéria aqui.

domingo, 8 de junho de 2008

o amor é cego e brega - parte 8

ainda na vibe do dia dos namorados, vamos falar de outro fenômeno que fica bem popular essa época do ano.

fotografei você na minha roleiflex

hoje eu vi o shopping frei caneca anunciando alguma promoção medonha do tipo "a cada X reais em compras, você ganha uma caneca com a sua foto para presentar o seu amor". shopping frei caneca - caneca, pegaram? pegaram?

deixando de lado essa inexplicável felicidade das pessoas em ganharem brindes a cada determinada quantia de dinheiro gasta, a troco de quê deveria ser bom uma caneca com a sua foto para presentear o amado?

eu REALMENTE não entendo. o ser humano é chegado numa eternização da imagem. para isso inventaram as câmeras fotográficas, filmadoras e afins. agora, por que se acha interessante imprimir essa imagem em canecas, almofadas e bolsas? não dá pra se limitar ao porta retrato?

pior: por que algumas pessoas acham que é de bom gosto sair com a foto do ser amado estampada no peito, ou melhor, na roupa? e deus que me perdoe, mas são sempre as piores fotos, a camiseta mais vagabunda e a impressão mais medonha e desbotada. e geralmente, os fotografados não favorecem muito, também...

atualmente, com a tecnologia permitindo coisas que antes eram impossíveis, temos também os bolos com fotos. sim, porque hoje em dia, você tem papel comestível que pode ser impresso com tintas que não fazem mal à saúde, e ter um lindo bolo com a foto que você escolher (mas nem parece que você pode escolher. pelo nível das fotos que o povo usa nessas coisas, parece que uma pessoa altamente escrota olhou TODAS as fotos possíveis e selecionou a pior).

um amigo meu, outro dia, me disse que ele não pôde ir num aniversário qualquer e que mandaram bolo pra ele. quando ele viu, ia comer o braço da aniversariante (e não num sentido erótico, vale frisar). fica meio hannibal, no fim das contas...

o amor é cego e brega - parte 7

não pensem vocês que esta série tinha acabado. o problema é que eu tenho 25 idéias de uma vez e, claro, não dá pra sentar e escrever sobre todas, e depois dá preguiça e elas ficam anotadas num caderno.

mas com a proximidade do dia dos namorados, foi inevitável não relembrar deste tema e querer retomá-lo. então, vamos lá!

os presentes apaixonados

quem é um apaixonado - e, portanto, cego e brega - que se preze tem que respeitar certas regrinhas. uma delas é perder todo e qualquer bom senso na hora de presentear o ser amado.

o quê, isso não é uma regrinha? gente, só pode ser. que outro motivo levaria as pessoas a comprarem coisas como cartões gigantes que necessitam de guindastes para serem erguidos, todo e qualquer artefato em tons de vermelho e branco, de preferência com corações e mensagens cafonas e (pra mim, o pior) aqueles ursinhos apaixonados da lionella que sempre apareciam anunciados no programa dos trapalhões? eu tinha pânico daquele urso, que era horrendo, de pelúcia sintética branca, com cara de duro (bichos de pelúcia nem sempre são fofinhos, acreditem), e ficava apavorada com a possibilidade de alguém resolver demonstrar seu amor por mim dessa forma.

o pior é que esses presentes são feitos sob medida para datas como aniversários de namoro e dia dos namorados. num natal ou aniversário da criatura, você consegue se limitar a dar uma camisa, um livro, um disco, com no máximo um cartão do garfield. mas se é uma data "romântica", imediatamente as pessoas sofrem arroubos e saem à caça de canecas com mensagens do tipo "ooh, baby, i love your way", porta-retratos onde se lê "cara-metade", almofadas onde está escrito "para uma namorada PERFEITA!!!" e ursos com cara de bobos.

na verdade, esse tipo de presente também foi feito para agradar mães (supostamente) e pais, de forma que também temos as versões para presentear nas respectivas datas. outro dia eu vi um kit completo de presentes fofos para dar à SOGRA. sim, vocês leram certo. quem teve essa idéia só pode ter tomado caipirinha de bardahl com detefon.

claro que existem vários objetos nesta categoria que são fofos e compráveis. eu não acho que seja obrigatório achar que uma coisa é horrível só porque ela tem corações. mas, infelizmente,
o que é de bom gosto desta categoria acaba sendo uma grande exceção à regra. de forma que, nessas horas, tente controlar o desejo de demonstrar "como é grande o meu amor por você" através do presente. vale mais comprar algo que seja legal e que a pessoa de fato goste/vá usar do que chegar com aquele mico leão dourado em forma de objeto, e obrigar o pobre coitado a expor aquilo ao mundo.

mas é evidente que isso é para quem pensa como eu (que, aliás, já dei e recebi presentes apaixonados bregas, o passado condena). tem mil gentes que vão achar tudo de ótimo ganhar um coração de pelúcia vermelho com braços escrito "eu te amo um tantão assim!". tomara que os que gostam de ganhar e os que gostam de presentear se reconheçam e se tornem um feliz casal bregamente simbiótico.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

mudança de sexo no SUS

li essa notícia hoje, e gostei (leia o original aqui):

Hospital do SUS fará cirurgia de mudança de sexo, anuncia Temporão

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou hoje (5) que, até o final do mês, assinará uma portaria que vai permitir a realização de cirurgia de mudança de sexo pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Ele disse que a portaria trará todos os critérios para a realização desse tipo de cirurgia e que poucos hospitais públicos serão autorizados a realizar o procedimento. O ministro não antecipou o número de unidades credenciadas para a cirurgia, mas disse que, serão poucas por tratar-se de um procedimento médico complexo, de longa duração e que exige um grupo de profissionais específicos.

Segundo o Temporão, as unidades serão hospitais universitários ligados aos grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

"Há uma demanda social. Essa portaria estará atendendo a todas as especifidades", disse o ministro ao chegar na 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT), no Centro de Convenções, em Brasília.

Ele disse que, há 11 anos, o Conselho Federal de Medicina aprovou esse tipo de cirurgia como procedimento médico. No Brasil, a cirurgia de mudança de sexo é feita apenas em clínicas e hospitais particulares e é um procedimento de alto custo.

deve ser um pânico nascer e ter a sensação de que você veio trocado, homem no corpo de mulher e vice versa. e não, isso não tem necessariamente a ver com orientação sexual. isso é questão de identidade sexual. vamos parar de achar que todo gay queria ser mulher e que as lésbicas são loucas pra ser um homem bem machudo, porque não é assim que a banda toca.

se bem que eu acho que o povo que me lê já sabe muito bem disso. mas não custa reforçar, né?

p.s. só eu acho que este é o tipo de post que faz com que pessoas desavisadas venham me perguntar se é muito difícil virar travesti? gato escaldado tem medo de água fria...

vem aí o dia dos namorados

estão aí anunciando loucamente o dia dos namorados. isso me faz pensar em 2 coisas:

- gente, só eu acho que ganhar celular de presente de dia dos namorados é totalmente sem graça? digo, salvo se seu sonho é ter um celular, mas até isso eu acho estranho. e olhe que eu tive celular antes da maioria dos meus conhecidos. mas, pra mim, celular sempre foi um telefone, um meio de comunicação, e não um sonho de consumo ou um objeto do desejo. ou seja, seria como alguém me dar uma linha telefônica de presente. mas eu sou um ET, já falei sobre isso. se bem que o meu novo tem câmera e mais umas viadagens. mas eu não consigo baixar toques mp3, e isso me deixa com raiva.

- cada vez mais eu vejo como o mundo não é feito para mim. não tenho namorado, não sou mãe, não sou criança, não sou pai, não sou professora, não sou secretária. ou seja, só ganho presente no meu aniversário e no natal, nenhuma dessas datas comemorativas aí vale pra mim. aliás, na verdade eu me revolto com esse mundo que acha que é impossível ser feliz sozinho, então você tem que namorar, noivar e casar. e, quando for casar, terá todo o direito de pedir todos os itens que irão compor a sua residência como presente, ou seja, você sonha, mas a gente realiza. já eu, que morei sozinha durante 8 anos, se não tivesse pais que me permitiram guarnecer o meu lar com bens, tinha me lascado. é muito injusto. se duas pessoas resolvem se casar, são 2 aí pra dividirem as despesas, facilita. e o mundo ainda acha por bem estimular que essas pessoas sejam presenteadas por todos os amiguinhos (e conhecidos). agora, se você é solteiro, vai morar sozinho, pagando tudo sem dividir, e ainda vai se fuder, porque não vai ganhar nada, salvo das pessoas que são tão tão tão suas amigas que te darão presente de casa nova porque amam você.


e nem venham dizer que eu estou amarga, porque não é um desabafo "queria um namorado". é apenas uma divagação que, por sinal, nem é coisa nova que eu pensei ontem. já tem um tempo que penso isso e comento por aí.

e só queria avisar que meu novo celular (ele de novo) tem final 666. interpretem como quiserem.

p.s. deu saudade daquele episódio do desenho do snoopy, o do dia dos namorados.

terça-feira, 3 de junho de 2008

da série: tolerância zero

ela veio de uma família com mais 7 irmãos. sempre teve personalidade forte, e peitava as freiras do colégio. aliás, peitava todo mundo. ao contrário do que era esperado para ela na época, não quis ser professora. foi cursar direito, ao mesmo tempo em que tinha mil amigos, fazia teatro dos novos e cuidava da própria vida.
aí ela conheceu ele, que era quieto, mas engraçado. e depois de um tempo namorando, conheceu a família dele. e eles combinaram de se casar.
aí começou. a família dela vivia perguntando: - quando você vai parar de trabalhar?
tal idéia nunca passou pela cabeça dela. e ela dizia que não ia.
a família dele achou que ela provavelmente pararia de trabalhar quando se casasse, o que, evidentemente, não aconteceu.
aí, ela ficou grávida. e a família dele perguntou: - bom, agora que seu filho vai nascer, você vai parar de trabalhar, não é?
e ela, claro, jamais pretendeu parar de trabalhar por causa disso. teve o filho, ou melhor, a filha, num dia de sábado, sendo que trabalhou até sexta. e ainda foi andando para o hospital.
a filha cresceu, eles resolveram ter outro filho, e a família dele, de novo, perguntando quando, afinal, ela ia deixar de trabalhar. e achando que agora, com 2 filhos, ela, claro, ia parar.
ela, claro, não ia. de novo, trabalhou até sexta, o bebê se manifestou sábado, nasceu uma menina, receba os presentes (desculpem, foi inevitável não lembrar do jogo da vida) e ela, claro, continuou trabalhando, e bastante.
criaram bem as duas filhas, o que prova que é possível trabalhar fora e educar bem as crianças (que depois viram adolescentes).
até que um dia, quando a filha mais velha estava com seus 19 anos, ele descobriu que ia trabalhar no exterior. a família dele, agora, não teve dúvidas de que ela ia parar de trabalhar para ir morar com ele lá fora.
ela não teve dúvidas de que ia, sim, continuar trabalhando no brasil, até porque ele continuaria vindo para cá periodicamente. e continuou a labutar, até o dia (cerca de 9 anos depois) em que, de saco totalmente cheio de trabalhar na empresa em que estava, se aposentou.
as filhas acharam que ela ia pirar na batatinha sem trabalhar, mas isso não aconteceu.
aí ela está num almoço na casa da família dele. e resolve contar a novidade à mulher do primo dele.
- sabe a novidade? parei de trabalhar.
a mulher do primo responde:
- sério? e o que você vai fazer agora?
ela, com o saco na lua, responde:
- cheirar pó.
- hã... cheirar pó?
- é. cheirar pó.
na saída do almoço, a filha mais nova diz:
- pô, minha mãe, como é que você disse a fulana que você vai cheirar pó? tá louca?
- ah, ela viu que era brincadeira.
- não, pelo seu tom, ela não viu, não.
- ah...! também, que saco! ficam a vida toda querendo saber quando eu vou parar de trabalhar e quando eu digo que parei, querem saber o que é que eu vou fazer? ah, tenha paciência!